Quando o assunto é endurance, a nutrição durante o esforço faz muita diferença.
Não é só “tomar um gel de vez em quando”: existe uma faixa de gramas de carboidrato por hora que, em média, ajuda a manter ritmo, reduzir a sensação de “muro” e chegar mais inteiro.
Essas recomendações vêm de décadas de pesquisa em nutrição esportiva, com autores como Asker Jeukendrup (SpringerLink), Louise Burke (Taylor & Francis Online) e materiais do Gatorade Sports Science Institute, entre outros.
A ideia deste texto é te ajudar a entender:
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de onde surgem esses números;
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como transformar isso em um plano prático;
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e como adaptar à sua realidade, respeitando sempre a individualidade e, se possível, com acompanhamento profissional.
Importante: este conteúdo é educativo e não substitui orientação de nutricionista ou médico.
De onde vêm esses números de carbo por hora?
Durante exercícios longos, o corpo usa principalmente:
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glicogênio (estoque de carboidrato no músculo e no fígado);
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carboidrato que você ingere (géis, bebidas, alimentos);
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e gordura, principalmente em intensidades mais baixas.
O glicogênio, porém, é limitado. Quando ele esgota, a sensação é de queda brusca de energia e de ritmo.
Os estudos mostram que, ao ingerir carboidrato durante o exercício, é possível:
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prolongar o tempo até a fadiga;
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sustentar melhor o ritmo;
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e terminar a prova com mais controle.
Por isso os pesquisadores começaram a estudar quanto carboidrato por hora o corpo consegue absorver e usar de forma eficiente.

Faixas recomendadas pela ciência
De forma resumida, o conjunto de estudos em endurance sugere algo assim (Jeukendrup, SpringerLink; Gatorade Sports Science Institute):
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Até 1 hora de prova
Pequenas quantidades de carbo já podem trazer benefício, inclusive na forma de bochecho com bebida carboidratada em esforços muito intensos. -
De 1 a 2,5 horas
A recomendação geral é de 30–60 g de carboidrato por hora.
Aqui entram:-
provas de 10 km e meia maratona;
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triatlo olímpico;
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longões de corrida ou ciclismo nessa faixa de duração.
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Acima de 2,5 horas (maratonas mais longas, Ironman, ultras)
A faixa sobe para 60–90 g de carbo/hora, especialmente quando se utilizam carboidratos múltiplos (por exemplo, glicose + frutose).
Isso porque:-
a glicose entra por um transportador no intestino;
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a frutose, por outro.
Com essa combinação, o corpo consegue oxidar mais carboidrato total por hora, com menor risco de desconforto gastrointestinal.
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Esses números não são “regras rígidas”, mas pontos de referência para você testar e ajustar.
E na prática, para quem corre, pedala ou faz triathlon?
Pensando no público típico de endurance:
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Meia maratona ou maratona em torno de 3–4 horas
Um alvo comum é algo entre 50–70 g de carbo/hora, de acordo com tolerância individual. -
Ironman, provas longas de ciclismo ou ultras
Muitos atletas se beneficiam de 70–90 g/h, desde que isso seja treinado nos longos. -
Atletas de menor porte ou com histórico de estômago sensível
Podem começar em 30–40 g/h e ir aumentando gradualmente, observando a resposta do corpo.
A pesquisadora Louise Burke costuma resumir isso com a ideia de “carbo para o trabalho que você vai fazer”:
treinos-chave e provas longas pedem maior disponibilidade de carboidrato, enquanto treinos leves podem ser feitos com menor ingestão, dependendo da estratégia global do atleta.
Como calcular sua meta de carbo por hora
1. Olhe para a duração do esforço
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Provas ou treinos até 2,5h → pense na faixa 30–60 g/h.
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Acima de 2,5h → considere 60–90 g/h, ajustando ao que você tolera.
2. Escolha um ponto de partida
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Nunca usou nutrição estruturada?
Comece em 30–40 g/h em treinos longos. -
Já está acostumado a usar géis/bebidas?
Pode iniciar em 50–60 g/h e avaliar.
3. Transforme gramas em produtos
Exemplo:
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Alvo: 60 g/h
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Gel: 25 g de carbo por unidade
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Bebida: 30 g de carbo a cada 500 ml
Algumas combinações por hora:
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1 gel (25 g) + 500 ml de bebida (30 g) + um pequeno complemento (5 g)
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ou 2 géis (50 g) + alguns goles de bebida (10 g)
O importante é a soma por hora, não um produto específico isolado.
4. Distribua ao longo do tempo
Em vez de concentrar tudo de uma vez, ajuda bastante dividir:
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Para 60 g/h, por exemplo, você pode ingerir ~20 g a cada 20 minutos,
ou -
1 gel a cada 30 minutos, complementando com bebida no meio.
Isso tende a deixar a energia mais estável e o trato gastrointestinal mais confortável.
Nós fazemos o cálculo pra você aqui inclusive.
Por que treinar o intestino é fundamental
Muitos estudos recentes mostram que o intestino se adapta à ingestão de carboidrato em exercício. Atletas que incluem sessões com ingestão mais alta (por exemplo, 60–90 g/h) nos treinos longos:
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costumam relatar menos desconforto;
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conseguem usar quantidades maiores de carbo com o tempo;
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e tendem a performar melhor quando precisam dessa estratégia em prova.
Por isso vale a pena:
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escolher alguns treinos longos nas semanas que antecedem a prova;
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testar a mesma estratégia de carbo que pretende usar no dia do evento;
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anotar o que funcionou e o que precisa de ajuste (volume, frequência, combinação de produtos).
Erros comuns (e maneiras simples de corrigir)
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Começar a ingerir carbo muito tarde
Idealmente, a ingestão começa nos primeiros 20–30 minutos de prova, em pequenas quantidades, e segue de forma constante. -
Usar pouca quantidade ao longo de toda a prova
Exemplo clássico: maratona de 4 horas com apenas 2 géis de 25 g (total 50 g → cerca de 12 g/h).
Isso é bem abaixo das faixas sugeridas para performance. -
Não contabilizar o que vem da bebida
Às vezes o atleta usa gel + bebida + outros alimentos, mas não soma os gramas.
Fazer essa conta ajuda a entender se você está em 30, 60 ou 80 g/h. -
Testar produtos novos só no dia da prova
Sempre que possível, experimente novos géis, sabores e bebidas nos treinos, especialmente nos longos. -
Ignorar individualidade
Algumas pessoas se sentem bem em 80–90 g/h, outras se dão melhor em 50–60 g/h.
A meta é encontrar o ponto ideal para você, dentro das faixas de referência.
Exemplos simples de estratégias
Meia maratona em 1h45–2h
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Alvo: 40–50 g/h
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Possível estratégia:
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1 gel por volta dos 30–40 min;
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1 gel por volta de 1h10–1h20;
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complementando com pequenos goles de bebida esportiva.
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Maratona em 3h30
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Alvo: 50–70 g/h
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Exemplo:
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1 gel a cada 30 min;
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300–500 ml de bebida esportiva por hora, se houver boa tolerância.
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Ironman (prova em ~10h)
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Alvo médio: 70–80 g/h na bike e início da corrida;
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Estratégia combinando géis, bebida com carbo e, eventualmente, um alimento sólido leve, sempre testado antes em treinos longos.
A Z2 está aqui para você!
Quando você entende quantos gramas de carbo precisa por hora, fica muito mais fácil montar um plano de prova consistente.
A Z2 pode ajudar justamente nisso:
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Todos os produtos com quantidades claras de carbo por porção;
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Disponibilizamos materiais educativos, ebooks, calculadoras e exemplos de planos;
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incentivamos que cada atleta teste e ajuste a própria estratégia nos treinos.
Em provas longas, não é preciso adivinhar.
Com informação, testes em treino e os produtos certos, você consegue chegar em uma quantidade de carbo por hora que funciona para o seu corpo e para o seu objetivo.
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