Cada vez mais atletas de endurance, como corrida, ciclismo e triatlo, têm buscado recursos além da alimentação, sono e do treino para melhorar a performance, incluindo o uso de medicamentos voltados para emagrecimento. A promessa de um corpo mais leve e eficiente é tentadora, mas a ciência e a prática mostram que esse atalho pode cobrar um preço alto.

O principal atrativo dessas medicações é a perda rápida de peso, muitas vezes com supressão importante do apetite. Em contextos não esportivos, isso pode representar uma solução viável para indivíduos com obesidade e risco metabólico elevado. No entanto, em atletas de endurance, que já possuem uma demanda energética extremamente alta, essa supressão do apetite pode ser desastrosa. Quando a ingestão calórica não acompanha o gasto gerado pelos treinos intensos, o corpo entra em déficit energético crônico. Uma condição conhecida como RED-S (Relative Energy Deficiency in Sport), que impacta negativamente funções hormonais, saúde óssea, imunidade, cognição e, claro, o desempenho físico.

Além disso, a perda de peso induzida por medicamentos nem sempre vem acompanhada de preservação da massa muscular. Pelo contrário: estudos mostram que parte do peso perdido com o uso de agonistas do GLP-1 vem de tecido magro. Para atletas de endurance, que dependem de boa função muscular para manter a eficiência metabólica e biomecânica por horas de prova, essa perda representa uma ameaça direta à performance. O risco de lesões também aumenta, já que músculos e tendões enfraquecidos deixam o corpo mais vulnerável ao esforço repetitivo.

Outros efeitos adversos relatados com o uso dessas medicações incluem náuseas, vômitos, desconforto gastrointestinal e até desidratação, sintomas incompatíveis com a rotina de treinos volumosos e intensos de quem pratica esportes de longa duração. Além disso, muitos atletas relatam sensação de fadiga, queda no rendimento e dificuldade em sustentar treinos em zonas de alta intensidade, o que compromete a evolução da capacidade aeróbica e da resistência muscular.

O ponto central é que performance e saúde não vêm de fórmulas mágicas. Em vez de buscar soluções rápidas, atletas mesmo os amadores se beneficiam mais de uma abordagem consistente: alimentação ajustada, treinos bem planejados, sono de qualidade e suporte de profissionais capacitados.

Em um esporte onde o jogo é de longo prazo, atalhos quase sempre levam ao lugar errado.

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