O desempenho esportivo está em constante evolução. Anualmente, muito recordes são quebrados e o que antes parecia ser o limite, se torna apenas mais uma meta superada. Tamanha evolução pode ser atribuída a melhoria e avanços tecnológicos em equipamentos, métodos de treinamento, recuperação e principalmente, nutrição e suplementação. Mais especificamente ao aumento do consumo de carboidratos antes e durante as competições.
Nos últimos anos, nota-se uma progressão ainda mais acentuada na performance em modalidades de endurance, o que pode ser atribuído à questão nutricional e aos novos conceitos da ingestão de carboidratos, já que em atividades mais longas a necessidade de reposição é maior e inevitável.
Não é coincidência que o aumento da ingestão de carboidratos esteja em sintonia com os impressionantes avanços do desempenho esportivo. As tendências alimentares vêm e vão, mas os carboidratos permanecem como os reis do mundo da performance em esportes de resistência.
Atualmente os atletas estão consumindo entre 90 e 140 gramas de carboidratos por hora. Isso é quase o dobro do que era preconizado há uma década atrás.
A nutrição, especialmente a capacidade de consumir carboidratos (durante treinos e competições), tornou-se tão importante, que hoje pode ser considerada o terceiro pilar dos esportes de endurance, ao lado do treinamento e da tecnologia.
Ao competir, mais é mais
Suplementar com carboidratos não é algo novo. O que mudou são as estratégias que os atletas colocam em prática para manter seus estoques de glicogênio. Especificamente as novas formulações de suplementos alimentares à base de carboidratos, que propiciam maior consumo e oxidação ao longo da atividade de forma tolerável.
A mistura de diferentes tipos de carboidratos (diferentes transportadores) em proporções específicas, alteraram o antigo "limite" de 60-90 gramas por hora.
Como exemplo temos o atleta campeão do Ironman 2022 Reinaldo Colucci que relata: “antigamente a ingestão de carboidrato era baseada exclusivamente com um carboidrato simples, a dextrose. Hoje com o mix da Z2, além da melhor absorção o sabor é outro também. Sabores como o Neutro da Z2 facilitam o maior consumo. Eu, no inicio da minha carreira, consumia cerca de 100g/hora e hoje eu consigo chegar a 140g/hora e a melhora na performance é perceptível”.
Os limites de consumo foram deslocados graças as novas proporções de maltodextrina/glicose-frutose que garantem a maximização da oxidação (tudo que é consumido é utilizado como energia na mais alta taxa).
O risco de "distúrbios gastrointestinais" decorrentes do consumo excessivo (sobrecarga de um único transportador) foi mitigado. As novas formulações tornam possível a absorção de níveis absurdos de açúcares pelo organismo.
Vale lembrar que para atingir a “maximização da oxidação” deve ser feito um trabalho de adaptação e treinamento intestinal.
Treinando para comer, comendo para treinar
Comer tão intensamente quanto os atletas de alto rendimento modernos fazem, requer prática. E essa prática é onde o atleta profissional está reinventando a forma como pensa.
Os atletas agora se alimentam durante seus treinos da mesma forma que se alimentam nas suas provas. A tendência de treinamento com baixo teor de carboidratos ou em jejum se mantem como algo relevante, mas cuidadosamente periodizado e estruturado em um programa de treinamento.
As sessões em jejum ou com baixo teor de carboidratos estimulam o uso de gorduras como combustível. É uma prática que aprimora a fisiologia dos atletas durante todo o dia. Mas são as sessões ricas em carboidratos que quebram os platôs e constroem a capacidade de fazer alterações de ritmos que constroem vitórias. A Performance.
Para cada sessão de treinamento com baixo teor de carboidrato, um atleta deverá enfrentar um treino de alta intensidade carregado com géis, barras e bebidas energéticas. Eles permitem que os atletas descubram quanto conseguem tolerar, "condicionem" seu trato gastrointestinal para a frenesi de carboidratos das provas e os ajudam a atingir intervalos no seu máximo.
E é assim que os limiares de potência anteriores e os recordes caem.
"Coma para treinar, coma para correr, coma para se recuperar"
O investimento financeiro e em pesquisas científicas em nutrição têm sido um dos marcadores do progresso recente da performance esportiva.
Um atleta de endurance de alto rendimento consome 5.000 a 7.000 calorias de energia por dia, do café da manhã ao momento de dormir, que os mantém abastecidos para os treinos, provas e recuperação.
O ciclo de carboidratos auto-perpetuante
As crescentes velocidades, ritmos e potências não podem ser atribuídas exclusivamente a recente "revolução dos carboidratos". No entanto, a capacidade de tolerar mais carboidratos para treinamentos, provas e recuperação está criando uma espécie de ciclo auto perpetuante.
Atletas carregados de carboidratos podem treinar mais intensamente e se recuperar melhor. O resultado? Eles correm mais rápido.
No entanto, ironicamente, a intensidade possibilitada por uma alimentação mais intensa só pode ser sustentada com mais combustível.
Até onde irá o abastecimento? E quão rápidos os atletas progredirão? Fisiologistas e nutricionistas reconhecem que há um limite para a ingestão "segura" de carboidratos, mas não acham que o esporte de elite o encontrou ainda.
Enquanto isso, as marcas de nutrição estão evoluindo suas linhas de produtos para atender à demanda por mais, e os fisiologistas experimentam atletas de teste para ver até onde as coisas podem ir.
É apenas uma questão de tempo antes que o "limite de carboidratos" de hoje seja soprado para longe.
Co-autoria:
Dr. José Paulo Gomes Puccinelli - CRM 151.357 SP
Maria Cecília Lapa de Carvalho Assad - CRN3 51540